segunda-feira, 23 de junho de 2014

Noite.
A janela está aberta.


O vento entra leve e sussurra a saudade que eu gosto de sentir.
O silêncio puxa a cadeira e senta ao meu lado. Lembranças me abraçam com braços de querer.
O querer que deu nome às flores que deixei pelo caminho. Sortuda que sou, são todas flores fictícias, dessas que não se vão nem que o vento leve. O vento que não leva. O mesmo que sempre traz.
O vento leve que de leve, nada tem. Esse que pesa, pisa, envaidece. Sou bom colecionador.
De longa data, coleciono flores - fictícias - banhadas dessa que sem mãos nos bate a face.
Essa, que os sábios denominaram como saudade. Essa que repito o nome, tornando cansativo todo o escrito. 
Sim, eu me repito. Nesse vento leve que me leva, eu me permito. Que bons ventos lhe trouxeram? Saberei? 
Ligeiro, tão louco e confuso... Permite. Bons ventos que trouxeram, permita que fique?
Ficando de pouco em pedaços, fiquei. Tão fácil pode ser doar fragmentos de si por aí...
Difícil é uni-los de volta. Que bons ares levam tão longe a realidade? Que boba felicidade volta a bater na porta? 
Sem precisar de muitas batidas, esse que de leve nada tem, a abre. Entra, senta, me observa.
Cheiro de flor de mentira, não quero sentir. Se não se tratar de bons ventos, seja certo o arrependimento, mais 
um fragmento a dividir. Quem partilha muito de si, sempre volta com bagagem.
Sou a mistura de mim mesmo e das fictícias flores que colhi? Sou eu o continuar da criação dessas?
Sou quem as rega daquilo que me torna uma repetição? Ela continua sentada a me observar.
Eu fugiria desse azul todo que escorrega de suas janelas. Eu fugiria, se ainda pudesse.
Não me pergunte a razão que me prende, eu não saberia lhe responder e, em sigilo, odeio a ausência da 
resposta. Venha, fique, permite. Me observe, não venha leve, mude as entrelinhas, não sejas breve. 
Confessar é o meu risco. Escapando dos segredos, com o seu observar barato, tão pouco é preciso 
dizer quando tudo em silêncio é falado. Sou meu. Não somente meu. Em segredo, sou das flores também. 
Sou os fragmentos que deixei, a fantasia que vesti, e essa repetição que permito.

Sou o cansar desse escrito.

27.05.2014




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